Os médicos diziam que ela havia surtado.
"Foi envolta por um desespero e não se pode falar que há volta."
Mesmo com os olhos fechados, parcialmente inconsciente, era capaz de participar dos fatos, ouvir a cada boato dentro daquela pequena sala branca, rosa, azul, esverdeando. um conjunto de cores, formas e sombras que iam e vinham cada vez com menos frequência, mas não paravam de existir.
Em um breve instante eterno, afinal o tempo não lhe era real, viu sua mãe sentada à cabeceira chorando e se esforçando para entender o porque de tal ato desesperado. Seu pai parecia entediado e reclamava das altas contas, não que ali havia falta de amor, mas sim uma alta culpa com taxas mais altas ainda de sentimentos confusos. Ele nunca fora controlador de sentimentos. Seus irmão pareciam não acreditar, em choque. E seu namorado simplesmente desaparecera dali, como deveria ser.
Ainda entre todas essas sombras e cores alguns 'flashs' a vinham visitar. Cenas do que havia acontecido. Homens, rostos e o desespero de nada poder fazer pra se livrar da crueldade infundada no desejo do prazer a qualquer custo. Talvez o nojo a tenha levado a cometer a brutalidade dos ferimentos.
Médicos, enfermeiras e pacientes sussurravam pelos cantos
"Ter sido violentada a levou a isso!"
"Viu só o desespero dela ao chegar aqui?!"
"Talvez tivesse ate arrependida, mas tarde, foi um ato desesperado."
Alguns apostavam em loucura ou devaneio, afinal conseguira ir sozinha ao hospital.
Mas quem bem a conhece sabe que ela nunca conviveria bem com com isso e que só quis mesmo foi acabar com tudo antes da loucura real.
Começou a sentir saudade e de um choro suave veio um breve despertar. Sentiu uma aperto forte em sua mão e uma voz que queria muito ouvir, uma voz de esperança, mas ela já sabia que não havia volta e num suspiro esforçado falou baixinho:
Meu amor, meu chão, minha segurança, Desculpa! Mãe, pai, amo vocês!
Retribuiu o aperto em sua mão.
Fechou os olhos.
Sentiu um peso em seu peito como se alguém a abraçasse forte.
Uma lágrima correu pelo seu rosto.
Não havia mais luzes, nem sombras, nem vozes. Só o resto de um sentimento de culpa por não poder voltar atrás.
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